Mais de um século após ciclo que desenvolveu a região, novos modelos para compra da matéria-prima nativa com pagamentos por conservação ambiental criam incentivo para seringueiros retomarem atividade.
'O seringueiro é o melhor guarda florestal': o novo ciclo de borracha nativa que está ajudando a preservar a AmazôniaO seringueiro José do Carmo Alves fazendo o corte para extrair látex em uma das centenas de seringueiras na terra que pertence à sua família no ParáHá coisa de seis anos atrás, facões em punho, José do Carmo Alves e sua irmã, Maria das Neves Alves Basto, voltaram a trilhar a estrada de, ainda encontraram as...
A extração não compromete a saúde da árvore, que se reproduz naturalmente no bioma, onde existem espécimes de até 300 anos. Elas estão na raiz do desenvolvimento econômico da região, com o ciclo da borracha que impulsionou o crescimento de Manaus e Belém na virada do século 19 para 20.Há mais de um século, entretanto, a matéria-prima da floresta perdeu para a borracha de áreas de cultivo, sobretudo na Ásia.
O extrativismo faz com que a família de 11 irmãos tenha insistido em preservar a floresta nativa em sua terra, uma exceção na região. A ilha de floresta é cercada por áreas desmatadas para pecuária. O Pará, que vai sediar a“Eu comecei pequeno. Estou no ramo desde que me entendo por gente. Mas em 1988 o Sarney tirou de nós a seringa, e aí eu parei”, afirma, referindo-se à extinção repentina de incentivos do governo militar.
As seringueiras precisam estar em meio à floresta para se manterem saudáveis e produtivas. A conta no setor é que, para cada estrada de seringais , é preciso haver cerca de 100 hectares de floresta preservados ao redor, o que equivale a cerca de 100 campos de futebol. Além disso, os produtores recebem um valor adicional do governo federal dentro da Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade , que assegura o valor mínimo de R$ 7,18 por quilo da borracha. Com isso, recebem quase R$ 18 por quilo da matéria-prima.
Os valores adicionais pagos pela empresa são condicionados à conservação da floresta. As áreas extrativistas são monitoradas por satélite, em uma plataforma online que permite à empresa rastrear eventuais danos à floresta. A história mudou depois que milhares de sementes de seringueiras foram contrabandeadas para o Reino Unido, que conseguiu cultivar seringueiras com sucesso em suas colônias asiáticas, precipitando o fim do ciclo da borracha da Amazônia.
“Os seringueiros eram analfabetos e já chegavam devendo no seringal. Os seringalistas roubavam no valor do produto, contabilizando a produção para baixo. Assim, os seringueiros não podiam abandonar o seringal por causa das dívidas.” Para 2024, entretanto, há metas de no mínimo dobrar essa produção. No ano passado, um grupo de empresas assumiu o compromisso de comprar pelo menos 1.700 toneladas de borracha nativa ao longo deste ano, após uma reunião multisetorial em Rondônia.
“Essa é a aliança perfeita para uma nova economia que concilia a produção de conservação. Temos a oportunidade de gerar mais renda e melhorar a qualidade de vida das comunidades da Amazônia por meio da manutenção da floresta em pé”, diz Brasi. Segundo Dione Torquato, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas , esse modelo tem potencial significativo de impulsionar o desenvolvimento local e reduzir a pobreza notória na Amazônia.