Dinâmica e, principalmente, consequências das manifestações são ainda objeto de estudo e de divergência entre pesquisadores
Dez anos depois, as Jornadas de Junho de 2013 seguem como um enigma que desafia intelectuais. A disputa por seus sentidos continua. Os atos são encarados como uma encruzilhada de forças políticas, da esquerda à extrema direita, que impulsionaram crises e diversos desdobramentos.
Entender a bússola ideológica das ruas se tornou um dos desafios ao se debruçar sobre Junho de 2013. Com ativistas tão díspares, o protesto deixou de ser “só pelos 20 centavos” — como dizia um dos slogans mais populares à época. As bandeiras se diversificaram, indo de pautas à esquerda ; passando por demandas da direita ; até o saudosismo da ditadura em pedidos por intervenção militar.
O arquiteto e urbanista Roberto Andrés, que está lançando “A razão dos centavos” , faz uma leitura diferente. Ele define como um traço marcante dos atos a participação de pessoas “despolitizadas”, que viam os protestos como forma de pleitear melhorias nas condições da vida nas cidades. Nas Jornadas de Junho, grupos usaram o Facebook para articular os atos. A ferramenta “eventos” permitia aos usuários “confirmar presença” nas manifestações, aumentando a mobilização do público. Segundo a socióloga Esther Solano, essa lógica das redes transbordou para a própria dinâmica das ruas.
Pesquisador da Casa de Rui Barbosa e autor de “Viver em rede” , sobre os movimentos do período, Julio Lopes diz que, em suma, os protestos apontam lacunas na Constituição de 1988, com reivindicações de que a democracia fosse realmente efetivada no Brasil. O foco seria a melhoria de vida nos centros urbanos e mais transparência na vida pública.
— As manifestações foram canalizadas depois para serem todas contra a suposta corrupção do PT, que estava só no governo federal — defende Janine, fazendo um balanço: — Isso deixou um legado de aversão à política.— Julio Lopes, pesquisador da Casa de Rui Barbosa Os atos escancaram a desconfiança de parte do povo com a elite política do país. O cientista político e presidente do Conselho Científico do Ipespe, Antonio Lavareda, lembra que o Datafolha apontou um derretimento da presidenteno período. Em apenas 20 dias, sua avaliação de “ótimo ou bom” despencou de 57% para 30%.
As primeiras reações da esquerda, que ocupa- va o poder, também não deram conta de ler os sinais dos manifestantes. O entendimento de que os protestos haviam sido sequestrados por um discurso moralista, contra o PT, fez surgir um senso comum nesse campo político de que 2013 era a revolta de uma classe média udenista, que apontava a corrupção como maior mal do país.
Paulino ressalta ainda que todas as instituições perderam. O Congresso Nacional, por exemplo, que sempre foi avaliado de uma forma mais negativa do que positiva, chegou a uma reprovação recorde em 2013. Juntamente com os governantes, as instituições também perderam prestígio. A maioria das pessoas não se sentia representada por quem deveria zelar por seu bem-estar.
Ele destaca ainda que, à época, os institutos de pesquisa não faziam levantamentos de identidade política, porque achavam que isso não era entendido pela população — algo que soa estranho nos dias de hoje, num país tão marcado ideologicamente. Aliás, é justamente em 2013, segundo especialistas, que abriram-se as porteiras para um processo de polarização do país.
— Aécio se encanta com esse movimento popular e acredita que ele vai poder usar essa direita radical como uma arma dele para chegar mais cedo na Presidência — afirma Limongi. — Mas ele vai mobilizar forças que depois vão perder o controle. Ele acendeu um barril de pólvora do qual se tornou vítima.
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