'Não há ideia dos bebês como extremamente frágeis': o que antropóloga italiana aprendeu vivendo com seu bebê em comunidade na Amazônia
Ele foi uma das pessoas que mais me ensinou no meu tempo no Equador.
A ideia do sling partia da premissa de proteger o filho do mundo exterior, enquanto os Runa acreditam que as crianças precisam estar conectadas ao mundo ao seu redor. Eles, como ele descreveu, carregam as crianças nas costas ou no quadril para que elas possam observar o ambiente.Sim, lembro-me que, ao adquirir o sling, os sites que visitei ressaltavam seu papel ideal no desenvolvimento do vínculo entre pais e filho.
Na minha visão, os Runa possuem uma concepção muito mais flexível acerca do desenvolvimento humano, e não aderem a esse paradigma de que tudo o que ocorre nos primeiros anos de vida é determinante para o futuro. Por exemplo, a ideia de ficar atento a criança o tempo todo por medo de que se não o fizer ela possa ter algum trauma, consegui deixar de lado.
Foi ao observar a forma como meu filho era tratado que comecei a ponderar sobre minhas próprias ações. Esse processo se desenrolou de maneira sutil, mas se revelou significativo.As crianças Runa são integradas à vida dos adultos; não existe tópico que seja tabu na frente delas. Lembro que meu amigo, de maneira simples, lhe explicou que todos nós, inclusive ele, um dia iremos morrer. Isso o impactou profundamente, pois, em sua idade, ele compreendeu o significado. Ele ficou visivelmente sério e perguntou: "Mas como?"As crianças não são mantidas alheias ao tópico da morte.
Quando uma vizinha saía com o bebê, o marido, ao perceber a mulher procurando freneticamente pela criança, dizia a ela: "Pare de se preocupar tanto, a criança está bem". Foi difícil aceitar, continuei procurando, mas depois disse para mim mesmo: você tem que confiar nas outras pessoas. Essas comunidades são muito pequenas, tem muita liberdade, as crianças andam pra todo lado, se chega em alguma casa, tem comida.Você descobriu que sua família Runa parecia alheia à ideia de uma relação "mãe-filho exclusiva e dominante" e também à ideia de que as necessidades e desejos dos filhos devem ser atendidos "sempre e prontamente". Seu artigo fala sobre o conceito de "individualismo suave".
E esse "individualismo brando", escreveu ele, promove a auto-expressão e o individualismo psicológico, e não é coincidência que essas sejam qualidades também promovidas na sociedade neoliberal. BBC - Você também argumenta que fora do mundo pós-industrial, as crianças raramente são o centro da vida adulta. Qual foi a experiência com o povo Runa?A criança participa de todas as atividades e, como qualquer outro membro da comunidade, não há ideia de que o desejo de uma pessoa, mesmo de uma criança, pode influenciar o desejo de outras pessoas.
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